Fantasias sexuais — o que dizem sobre nós?

As fantasias sexuais revelam quem somos? Seja uma atmosfera romântica com iluminação suave, sexo com várias pessoas ou roleplay, elas refletem as nossas necessidades humanas e a psicologia pode elucidar-nos sobre elas.

Ter fantasias sexuais é muito comum, mas ter espaço para falar ou perguntar sobre elas é mais invulgar.

Muitas vezes, até em relações significativas, hesitamos em partilhar fantasias por medo de sermos julgados ou de termos desejos considerados anormais ou bizarros. Na verdade, a comunicação sobre estas questões reforça a intimidade e torna-nos pessoas mais livres para expressar os nossos desejos sem vergonha.

O que é uma fantasia sexual? 

Primeiramente, convém entender que uma fantasia sexual é um jogo imaginativo, frequentemente associado a um cenário sexual excitante, com mais ou menos detalhes. Pode ser induzida por:

  • Estímulos externos, por exemplo, uma cena de um filme, uma situação com uma pessoa de quem gostamos;
  • Estímulos internos, como uma memória ou um pensamento. 

Muitas vezes, o sonho erótico pode levar à excitação, mas fantasiar algo não significa, necessariamente, um desejo de concretizar essa fantasia.

Importa também salientar que as fantasias sexuais podem mudar ao longo da vida, à medida que evoluímos. As fantasias são apenas uma dimensão da nossa orientação sexual. e o aparecimento de uma nova fantasia erótica não tem necessariamente de pôr em causa a nossa identidade:

  • Fantasiar com sexo em grupo não nos torna automaticamente não-monogâmicos;
  • Fantasiar com um beijo com uma pessoa do mesmo sexo não nos torna necessariamente homossexuais ou bissexuais. 

Tipos de fantasias sexuais

Muitas vezes pensamos que as nossas fantasias eróticas são estranhas ou únicas, mas a maior parte das pessoas, independentemente do género, têm fantasias muito semelhantes.

O investigador do Instituto Kinsey, Justin J. Lehmiller (2018), identificou três macro categorias: 

1. Sexo com várias pessoas: orgias, ménage à trois, gangbangs 

Satisfazem a necessidade de ser o centro das atenções e o desejo de ser desejado por várias pessoas ao mesmo tempo.

2. Novos sítios e formas de fazer sexo 

O inesperado e o risco predominam nas fantasias, destacando-se a do ato sexual em público, que rompe com a rotina e monotonia. Brinquedos sexuais, frequentemente em casais monogâmicos, também pertencem a esta categoria.

3. Poder e controlo 

As fantasias que envolvem domínio e submissão são mais comuns do que imaginas. Fantasiar sobre amarrar ou ser amarrado, dar ou receber ordens e até infligir ou sentir dor não é raro. 

O BDSM, que representa Bondage e Disciplina, Dominação e Submissão, Sadismo e Masoquismo, permite que as pessoas explorem essas fantasias num ambiente seguro. Mais do que um simples ato, o BDSM é um 'jogo' que permite aos envolvidos adotar diferentes papéis, seja para escapar das responsabilidades diárias, enfrentar ansiedades ou até mesmo para fins terapêuticos. 

Em qualquer prática de BDSM, e de facto em todas as práticas sexuais, o 'consentimento' é fundamental, daí a importância de estabelecer palavras de segurança que definam os limites desse jogo.

Fantasias sexuais — psicologia, psicanálise e influências culturais

É possível associar um significado psicológico às fantasias sexuais? E como é que elas se relacionam com a psicanálise?

Existe uma grande variabilidade nas fantasias sexuais e essa diversidade é considerada normal dentro da psicologia. Cada indivíduo, baseado nas suas experiências, educação e contexto sócio-cultural, desenvolve uma série única de fantasias que podem ou não ser partilhadas com outros.

A psicanálise, criada por Sigmund Freud, explora desejos ocultos e a sua representação em sonhos e fantasias. Freud defendia que as fantasias sexuais, sobretudo as tidas como tabu, podem ser respostas a conflitos ou traumas. No entanto, a visão freudiana é apenas uma entre várias abordagens psicológicas, e nem todas valorizam igualmente a sexualidade reprimida.

O que é considerado tabu tende a despertar excitação nas pessoas, possivelmente pelo desejo de desafiar o “proibido” ou o que é socialmente inaceitável. Psicologicamente, enfrentar um tabu pode representar um desafio a limites, sejam eles pessoais ou sociais.

As fantasias sexuais estão profundamente ligadas ao contexto histórico-cultural. Por isso, ao tentar entender a psicologia de uma pessoa com base nas suas fantasias, é crucial considerar o ambiente e o período em que vive.

Atenção às fantasias obsessivas 

Quando as fantasias sexuais se tornam obsessivas, intrusivas ou perturbadoras, é importante abordar esses sentimentos de maneira cuidadosa e compreensiva. Em alguns casos, fantasias que se repetem de forma incessante ou que causam angústia podem ser um sinal de questões mais profundas, como ansiedade, trauma não resolvido ou transtornos psicológicos.

Nestes momentos, é crucial procurar ajuda de um profissional de saúde mental, como um psicólogo ou terapeuta sexual. A terapia proporciona um ambiente seguro para explorar e entender o significado por trás dessas fantasias, ajudando a pessoa a encontrar maneiras saudáveis de lidar com elas.


Artigo de Dania Piras - Especialista em Sexualidade Típica e Atípica

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