Sair do armário (coming out) — um guia precioso
Sair do armário é ainda um tabu para muitas pessoas, pois persiste o estigma social e o olhar de lado, com preconceitos e estereótipos sobre a não heterossexualidade.
O coming out existe porque é comum assumirmos que as pessoas à nossa volta são heterossexuais e cisgénero (identificando-se com o sexo biológico).
Mas o que é sair do armário e de onde vem a expressão “coming out”? Veremos também como sair do armário em diferentes contextos.
O que é sair do armário?
A expressão "coming out" vem da frase inglesa "coming out of the wardrobe", que significa literalmente "sair do armário", e é utilizada para descrever a ação de declarar abertamente a orientação sexual ou a identidade de género de uma pessoa.
1. É um processo
Declarar-se gay, bissexual, pansexual, transgénero, não-binário, assexual ou outro é mais um processo do que uma declaração única.
O primeiro coming out é aquele que fazemos a nós próprios, quando tomamos consciência da nossa orientação sexual e da nossa verdadeira identidade de género. Uma vez adquirida esta consciência, a abertura aos outros pode tornar-se muito mais espontânea.
Embora hoje em dia seja mais habitualmente aceite ter uma identidade sexual ou de género atípica (no sentido de invulgar), o medo mais comum para quem pensa em assumir-se é precisamente o de não ser aceite ou compreendido.
2. É uma escolha pessoal
Por isso, assumir-se é e deve ser uma escolha convicta e pessoal. Cada indivíduo deve ser livre para decidir como, quando e com quem partilhar a sua identidade. É, de facto, absolutamente normal que haja pessoas com quem se prefira evitar sair do armário.
Como sair do armário?
Para decidir se deves ou não assumir-te, há vários aspetos que deves ter em conta, nomeadamente no que diz respeito ao contexto em que te encontras.
- Em primeiro lugar, é necessário avaliar o grau de abertura e de sensibilidade a certas questões do ambiente que te rodeia (na escola, no trabalho, na família ou numa comunidade).
- Se sentes que o facto de te assumires te coloca em perigo ou te expõe ao risco de perder o apoio emocional e/ou financeiro da tua família, talvez seja melhor esperares por um momento ou uma situação mais segura e acolhedora.
O que fazer antes de sair do armário?
Não existe uma forma certa ou errada de se assumir, sendo que é o próprio indivíduo que escolhe se o quer fazer e de que forma.
Alguns conselhos são:
- Começa por falar primeiro sobre o assunto e envolve outras pessoas que se identificam como LGBTQIA+ ou aquelas que sabes serem abertas e sem preconceitos;
- Faz pesquisa online ou em centros LGBTQIA+, tanto para autoeducação e inspiração, como para saber responder a possíveis perguntas e dúvidas de amigos e entes queridos.
Como sair do armário para os pais?
Depois de alguma preparação, há que escolher um momento mais apropriado para falar com os pais. Tudo depende da relação que existe entre pais e filhos.
Se for o caso, tenta falar primeiro com aquele com quem te dás melhor. Depois desse primeiro passo pode ser muito menos complicado, pois já terás um “aliado”.
No entanto, podem existir famílias nas quais o ambiente não é nem acolhedor nem seguro. Nestes casos, não te esqueças que tens alternativas de apoio, como a ILGA Portugal, que dispõe de uma linha de apoio telefónica e grupos de apoio e partilha, para a comunidade LGBTQIA+.
Sair do armário na escola
Sair do armário para um adolescente, quando está em plenas transformações corporais e hormonais, pode ser um desafio extremamente complicado.
Como reagirão os colegas e melhores amigos? Irão contar a toda a gente? O bullying é uma realidade nas escolas e todo o fator de diferença pode ser a motivação para alguém começar a dificultar a vida de quem se assume perante os pares.
Apesar dos desafios, é importante realçar que muitos encontram a aceitação e o conforto que procuram no momento em que partilham a sua identidade, nomeadamente junto de professores e conselheiros.
Sair do armário na empresa
Este é um contexto com questões mais complexas, nomeadamente se a empresa tem e cumpre políticas de inclusão e de não discriminação. No entanto, mesmo que haja, é possível encontrar obstáculos na progressão da carreira.
Numa organização é essencial uma boa comunicação entre todos os elementos das equipas, mas podem existir momentos de maior competição por uma posição, por exemplo. Este fator é importante ser considerado no momento de sair do armário para colegas e superiores.
Sabemos que há legislação que impede a discriminação pela orientação sexual, mas, ainda assim, pode ser alegada falta de produtividade ou redução de custos.
Sair do armário — o lado bom
Os aspetos positivos também dependem muito do contexto em que nos encontramos, mas há vários elementos importantes a considerar.
Assumir-se é, antes de mais, um ato libertador e há uma razão pela qual as celebrações LGBTQIA+ se chamam "orgulho", o oposto da vergonha.
Muitos estudos confirmam que a maioria das pessoas que se "assumem" publicamente vivem vidas mais saudáveis e mais preenchidas, em todos os sentidos. Em particular, "assumires-te" pode ajudar a diminuir os teus níveis de stress e, assim, melhorar as tuas experiências relacionais.
Seja qual for a tua escolha, ama-te como és.