Masturbação masculina — prejudicial ou benéfica?

A masturbação masculina é frequentemente um dos primeiros momentos em que o homem começa a explorar o próprio corpo e a entender o prazer sexual. No entanto, ainda há quem acredite que a masturbação tem consequências graves para a sua saúde, como prejudicar a visão ou causar cegueira.

É essencial que os mais jovens tenham a informação correta sobre este assunto e não acreditem nos estereótipos determinados pela sociedade. Por isso, o artigo de hoje debruça-se sobre as mentiras e verdades dos efeitos e consequências da masturbação masculina. 

Masturbação masculina faz mal à saúde? 3 mitos a esclarecer 

Até à primeira década do século passado, se perguntássemos a um médico quais os efeitos da masturbação masculina ele responderia algo como: 

• Enfraquecimento;
• borbulhas;
• Declínio do intelecto;
• Perda de memória;
• Ataques de raiva;
• Loucura;
• Epilepsia;
• Febre. 

1. A masturbação masculina causa infertilidade e faz mal à saúde

No final do século XIX,  a visão da sociedade sobre a masturbação era bastante diferente da que temos hoje. O auto-erotismo, como também era chamado, era considerado por muitos como um ato indecente e até perigoso. Um dos maiores defensores desta perspectiva era o Dr. John Harvey Kellogg, que cunhou o termo "abuso auto-administrado" para descrever a prática.

O Dr. Kellogg era um fervoroso defensor da abstinência sexual e acreditava que a masturbação tinha consequências negativas, tanto físicas quanto psicológicas. Segundo ele, este ato esgotava o corpo e os nervos, drenando energia e nutrientes essenciais à saúde. Defendia ainda a teoria de que a masturbação enfraquecia o sémen, tornando o homem incapaz de procriar.

2. A masturbação masculina é pecado

Embora algumas culturas e religiões possam considerar a masturbação masculina como um pecado, é importante notar que essas visões são influenciadas por normas sociais e valores morais específicos, e não necessariamente refletem a realidade da sexualidade humana. Estudos científicos têm demonstrado que a masturbação é uma parte normal do desenvolvimento sexual e pode trazer diversos benefícios para o bem-estar físico e mental dos indivíduos.

É importante enfatizar que a masturbação masculina não é um ato pecaminoso ou imoral. Ela não causa danos à saúde e não está associada a consequências negativas. Pelo contrário, trata-se de uma prática saudável e natural que pode promover o autoconhecimento, a satisfação sexual e a autoestima.

3. A masturbação causa impotência

A disfunção erétil é uma condição que pode ser causada por diversos fatores, incluindo problemas de saúde, stresse, ansiedade e outros elementos de natureza psicológica. No entanto, é importante esclarecer que a masturbação não está entre as causas do problema.

Na verdade, a masturbação pode até ser benéfica para a saúde sexual masculina. Durante a masturbação, ocorre um aumento do fluxo sanguíneo para o pénis, o que pode ajudar a manter a saúde dos tecidos penianos e a função erétil.

É importante compreender que a disfunção erétil tem causas multifatoriais e requer uma avaliação médica adequada para identificar suas origens específicas. Negligenciar os fatores reais que contribuem para a disfunção erétil e atribuir a culpa à masturbação é um equívoco que pode impedir a busca por tratamentos eficazes e adequados.

A masturbação masculina promove o bem-estar, o relaxamento e a libertação da tensão sexual e mental. 

Benefícios da masturbação masculina

Com o avanço da ciência, a revolução sexual dos anos 70 e o abrandamento de muitos tabus, assistimos a uma inversão da situação como nunca antes vista: não só a masturbação não é prejudicial, como foram descobertos vários efeitos positivos inesperados, entre os quais o aumento da fertilidade que preocupava os nossos antecessores.

• Os espermatozóides têm uma duração média de vida de 5 a 7 dias e os espermatozóides mais jovens são também os mais móveis e saudáveis. Com a produção de 3 milhões de novos espermatozóides por dia, a masturbação permite eliminar os espermatozóides velhos e ter sempre pronto um sémen de alta qualidade.

• Alguns estudos também sugerem que a masturbação ajuda a prevenir o cancro da próstata, ejaculando 7 vezes por semana a 21 vezes por mês, dependendo da investigação. Outros estudos determinaram que a ejaculação pode ajudar a reforçar o sistema imunitário, especialmente contra o cancro e as infecções virais.

• Para além de todos estes efeitos sistémicos, existem efeitos hormonais imediatos, especialmente a descarga de dopamina, ocitocina e prolactina, responsáveis pela satisfação pós-orgásmica e pelo bom humor. O sistema parassimpático cria um estado geral de relaxamento e, como efeito a longo prazo, o orgasmo gera serotonina, que melhora o nosso humor e proatividade nas horas seguintes.

• A masturbação ajuda com a libertação da tensão sexual e mental, sem o stress associado à ansiedade de desempenho durante o sexo. Esta prática permite explorar e aprimorar a consciência do próprio corpo, além de "treinar" para alcançar maior prazer e desempenho.

Nota: Ao ajustar a técnica de masturbação, é possível melhorar a qualidade das ereções e prolongar o tempo de excitação.

Além disso, a masturbação é uma forma eficaz de:

• Combater o mau humor;
• Promover um sono mais tranquilo;
• Oferecer alívio para certo tipo de dores, como nas costas, graças ao seu efeito analgésico.

O auto-erotismo não anula o desejo por relações sexuais. A prolactina, hormona que regula a nossa satisfação sexual, é libertada 400% mais após um orgasmo durante o acto sexual do que após a masturbação. Portanto, masturbar-se não leva a uma perda de interesse no sexo, muito pelo contrário.

Artigo de Claudio Morandini - Fisioterapeuta, responsável pela reabilitação perineal, consultor de sexologia e perito em educação sexual.