Sexualidade fluida — o binário ainda serve?
Sexualidade fluida? A vida não é binária e muitas vezes tentamos simplificar o mundo, incluindo a sexualidade, ao dividi-lo ao meio. No entanto, a fluidez é um aspeto inerente deste espectro.
Falando de orientações sexuais, e especialmente das nuances dentro da comunidade LGBTQIA+, que abrange lésbicas, gays, bissexuais, transsexuais, queer, intersexuais, assexuais e mais, percebe-se a complexidade e a fluidez deste mundo. A atração que sentimos é apenas um aspeto da nossa identidade, suscetível a variações e mudanças.
Sendo impossível aprofundar completamente o assunto, vamos deixar indicações para começares a questionar e a fazer perguntas a ti próprio.
A dimensão da fluidez na identidade sexual
A identidade sexual pode ser definida como uma construção abrangente que molda a sexualidade de uma pessoa em vários aspetos: orientação, identidade de género, sexo biológico, expressão de género e papel de género.
Mas a sexualidade não fica por aqui: há muitos aspetos que ainda não estão incluídos nesta lista. Por exemplo:
- O que é que define a minha identidade de género? São os meus órgãos genitais?
- Será que me sinto mais confortável num determinado papel de género?
- Será que a minha identidade de género é apenas como eu me defino?
- E se eu gostar mais do que uma pessoa e quiser ter mais do que um parceiro?
- O que acontece se só tiver preferência por um determinado tipo de práticas sexuais?
- E se eu não quiser definir-me de forma alguma e quiser apenas viver o que vier?
A sexualidade fluida desafia o binarismo
Uma das maiores dificuldades em conceber a sexualidade fluida é o facto de pensarmos em termos binários: masculino/feminino, homem/mulher e heterossexual/homossexual.
Vivemos num mundo que privilegia o binário, pressupondo que todos se enquadram num dos lados através de comportamentos, estéticas e escolhas de vida. Quando começamos a questionar estas crenças, podemos verdadeiramente conceber e abraçar a profunda diversidade que cada um de nós traz dentro de si.
As teorias na sexualidade fluida
No último século, foram vários os estudos que tentaram encontrar formas de explicar a fluidez na sexualidade: desde o modelo pioneiro de Kinsey, passando pela grelha de Klein, até à ideia de “Genderbread Person” de Sam Killermann.
A limitação destes modelos prende-se com a incapacidade na expressão desta fluidez inerente à sexualidade. Tabelas, diagramas e contínuos entre dois pólos opostos são simplificações úteis para refletir sobre o assunto, mas não são exaustivos.
Teoria das Configurações Sexuais — contributo para a definição de sexualidade fluida
Um dos modelos mais recentes e inovadores é a Teoria das Configurações Sexuais (TCS), de Sari van Anders, que oferece uma abordagem expansiva para compreender o conceito de sexualidade fluida.
A teoria aborda a sexualidade como um mapa pessoal, considerando elementos como atração sexual, atração romântica, identidade de género, expressão de género, experiências eróticas, entre outros.
Menos normas e mais liberdade — o papel da sexualidade fluida
Neste momento, alguns dogmas e normas sociais estão a ser quebradas, especialmente no que toca à estética. Torna-se cada vez mais comum ver expressões de género fluidas, onde aspetos considerados culturalmente masculinos ou femininos são questionados através de roupas, acessórios e maquilhagem.
É importante vincar que não se trata simplesmente de "moda", mas de uma postura muito mais ampla, com vista a reivindicar para além dos papéis de género e dos padrões sociais, para ser-se livre e poder expressar-se, experimentar, explorar, mas acima de tudo para ser, sem se sentir errado.
Artigo de Dania Piras - Especialista em Sexualidade Típica e Atípica